terça-feira, 17 de março de 2009

A importância do livro

Quando eu era pequeno, eu tinha um sonho: Ser um escritor! Não um escritor qualquer, mas um escritor reconhecido mundialmente.
Meus pais achavam que isso era bobagem, que ninguém conseguiria sobreviver sendo escritor, os jovens da minha época deveriam ser engenheiros, médicos, advogados.
Apesar de todos os contratempos e até de enveredar-me por outros caminhos como a música, nunca desisti do meu sonho.
A glória do mundo é passageira, e não é ela que nos dá a dimensão de nossa vida – mas a escolha que fazemos, de seguir nossa lenda pessoal, acreditar em nossas utopias, e lutar por elas. Somos todos protagonistas de nossas existências, e muitas vezes são os heróis anônimos que deixam as marcas mais duradouras.
Conta uma lenda japonesa que certo monge, entusiasmado pela beleza do livro chinês Tao Te King, resolveu levantar fundos para traduzir e publicar aqueles versos em sua língua pátria. Demorou dez anos até conseguir o suficiente.
Entretanto, uma peste assolou seu país, e o monge resolveu usar o dinheiro para aliviar o sofrimento dos doentes. Mas assim que a situação se normalizou, de novo partiu para arrecadar a quantia necessária à publicação do Tao; mais dez anos se passaram, e quando já se preparava para imprimir o livro, um maremoto deixou centenas de pessoas desabrigadas.
O monge de novo gastou o dinheiro na reconstrução de casas para os que tinham perdido tudo. Outros dez anos correram, ele tornou a arrecadar o dinheiro, e finalmente o povo japonês pôde ler o Tao Te King.
Dizem os sábios que, na verdade, esse monge fez três edições do Tao: duas invisíveis, e uma impressa. Ele acreditou na sua utopia, combateu o bom combate, manteve a fé em seu objetivo, mas não deixou de prestar atenção ao seu semelhante. Que seja assim com todos nós: às vezes os livros invisíveis, nascidos da generosidade para com o próximo, são tão importantes quanto aqueles que ocupam nossas bibliotecas.
A importância do livro é fundamental, mas no fundo a mensagem de qualquer livro é ser generoso com seus semelhantes. Aprendam com os livros, mas transformem a mensagem destes livros em valores para suas vidas.


Texto do escritor Paulo Coelho dedicado com exclusividade para os estudantes da EEEM Dr. Dionísio Bentes de Carvalho / 9 de março de 2009.

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